Resistimos ao Racismo - Solidariedade com a Joacine

No dia 6 de Outubro de 2019 Portugal fez história, apesar da vitória ter sido agridoce. Três mulheres negras foram eleitas pelas portuguesas e portugueses para os próximos quatro anos se seguem. No rescaldo do que consideramos um bom inicio para o avanço do debate antirracista em Portugal vimos uma das deputadas recentemente eleitas, Joacine Katar-Moreira, a ser vilmente atacada com um número ímpar de acusações falsas que culminam numa petição que pede que seja destituída, antes mesmo dela ter tomado posse, por ter sido exibida uma bandeira da Guiné-Bissau, sua terra natal, nos festejos de confirmação da sua eleição. Em boa verdade a motivação política pelo rechaço à bandeira deve-se precisamente por ser a bandeira da Guiné-Bissau, um país africano, ex colónia portuguesa. Temos muitos exemplos de luso-descentes que erguerem bandeiras portuguesas noutros países e aí é motivo de celebração.

Duas das novas deputadas, Beatriz Dias pelo BE e a Joacine pelo Livre foram eleitas com programas abertamente antirracistas e esse facto por si já concretiza uma pequena vitória das mobilizações e avanços dos vários movimentos antirracistas em Portugal. Os ataques à nova deputada não passam do confronto de um Portugal profundamente racista com a realidade de um avanço que atenta contra pilares da construção da identidade portuguesa histórica sustentados e moldados à luz de uma visão colonialista protagonizado pela extrema-direita nacional. Estes ataques vem de sectores inspirados na onda da saída do armário de tudo que é podre e retrogrado, que tem objectivo não só de retirar o que já foi conquistado mas de aprofundar ainda mais os ataques aos sectores oprimidos.

Ao mesmo tempo que testemunhamos avanço com a eleição destas mulheres negras, a entrada de André Ventura no Parlamento é sintoma desta saída do armário de sectores reaccionários, que acontece internacionalmente e que vai ganhando terreno em Portugal também. Ventura fundou, há um ano, o Basta, para combater a corrupção mas também para ilegalizar o casamento homoafectivo, proibir a adopção para casais LGBTs, atacar as comunidades afrodescendentes, imigrantes e ciganas e repor uma suposta identidade nacional baseada em valores tradicionais. A eleição do Ventura é um ataque a todas nós, LGBTs, mulheres, negras, imigrantes, ciganas e precárias e devemos desde já organizar mobilizações para nos defender dos retrocessos que podem estar ao virar da esquina. As organizações de esquerda, antirracistas, feministas e LGBTs tem que se colocar à frente desta contestação, unificando as lutas e demonstrando como as saídas nacionalistas e de extrema-direita não trazem nada de positivo para as nossas vidas.

No dia 21 de Outubro haverá a primeira sessão do parlamento eleito. As contradições do nosso parlamento são evidentes e sabemos que os próximos anos vão ser cruciais para determinar os avanços ou recuos nas nossas vidas. O colectivo Resistimos apela a que todas as organizações de esquerda, sindicatos, partidos, colectivos e  pessoas que se queiram mobilizar para prestar solidariedade às mulheres negras eleitas, mas também para defender as nossas vidas e os nossos direitos, se juntem no dia 21, às 18h, frente a Assembleia da República, para um protesto e uma assembleia aberta com microfone aberto. É urgente organizar, trocar experiências e traçar um plano de lutas LGBT, antirrascista, feminista, por justiça climática, em RESISTÊNCIA.

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